Monday, October 22, 2007

Pequenos restaurantes de grandes chefs franceses

A França é mundialmente renomada pelo requinte de sua cozinha. E, mesmo se algumas vezes os franceses reivindicam com excessivo orgulho a supremacia da gastronomia do País, não se pode negar que a culinária francesa teve uma influência importante no mundo ocidental.

A culinária na França impressiona pela qualidade e diversidade dos pratos, fruto de uma tradição gastronômica forte e de uma quase intelectualização das práticas culinárias que lançou escolas inovadoras como a nouvelle cuisine, uma reeleitura da cozinha tradicional.

Hoje, muitos dos melhores chefs mundiais são franceses, com nomes reconhecidos internacionalmente como Paul Bocuse, Alain Ducasse, Guy Savoy ou Joël Robuchon.

Em Paris, capital mundial da alta gastronomia, opção é o que não falta. O único problema é que nem todo mundo tem disposição para pagar até 600 euros por uma refeição em um dos requintados restaurantes da cidade luz. Neste caso, uma opção é optar por um dos restaurantes satélites dos renomados chefs franceses.

Nos últimos anos, a maioria dos grandes chefs da França abriram, seja para diversificar os negócios, seja por amor ao metiê, restaurantes secundários com preços acessíveis. Hoje, com um orçamento médio de 50 euros, é possível disfrutar da cozinha de um chef premiado, sem fazer um rombo enorme no orçamento.

O chef Guy Savoy explica que a diferença de preço não compromete a qualidade e que ela se deve, principalmente, à um atendimento mais modesto e à utilização de ingredientes mais simples e mais baratos na confecção dos pratos . « Dificilmente vou utilizar em um dos meus restaurantes anexos ingredientes como a trufa », explica o chef francês.

Todos esses restaurantes têm em comum a assinatura de um nome consagrado da gastronomia francesa, mesmo se o chef principal aparece raramente na cozinha de seus satélites.





L'Angle du Faubourg, modernidade e tradição

Criado por Jean-Claude Vrinat, proprietário do reputado restaurante Taillevent, o Angle du Faubourg não deixa quase nada a desejar ao irmão mais velho. Já consagrado com uma estrela no Michelin, o restaurante propõe uma cozinha que alia tradição e modernidade. Os pratos são coloridos, saborosos, refinados e discretamente aromatizados com especiarias. A carta é refeita a cada seis semanas e o menu do dia, com entrada, prato principal e sobremesa, sai por 35 euros, um preço abordável para um local que já faz parte do seleto clube do Michelin, um dos principais guias gastronômicos do mundo.

A cozinha do Angle do Faubourg, « original e ensolarada », nas palavras do chef Laurent Poitevin, tem como base os produtos do sul da França, de inspiração mediterrânea, com destaque para os legumes como tomates, cebolas, beringelas e abobrinhas. Entre as especialidades da maison, estão os foie gras de pato confit e os risotos, elaborados com ingredientes que variam de acordo com a estação.

O cardápio propõe outros pratos originais e saborosos como os langostins rôtis com alcachofras ao molho de azeite de oliva e cebolas, torta de atum fresco com ervas aromáticas, coelho rôti à flor de tomilho ou, ainda, o carré de cordeiro rôti com erva-doce e tomates confits. Os queijos também são um deleite, como o tome de ovelha com pimenta Espelette, e o Saint-Maur, de leite de cabra, servido com geléia de cerejas negras.

A carta de vinhos tem mais de duzentas referências, a maioria francesas, e muitos vinhos podem ser vendidos diretamente na taça, a partir de 7 euros. Os preços das garrafas variam de 15 a 820 euros. A originalidade é que o cliente pode comprar o vinho diretamente nas caves Taillevent, que ficam a poucos metros do restaurante, e reservá-lo para beber durante o almoço ou jantar.

L’Angle du Faubourg
195, Rue Faubourg St-Honoré
+ 33 (0) 1 40 74 20 20


L’Atelier Maître Albert

O renomado chef Guy Savoy é um adepto dos anexos a preços modestos. O Atelier do Maitre Albert, rotisserie situada no coração do quartien latin, pertinho da Catedral de Notre Dame e do Rio Senna, é o quarto restaurante satéllite do chef francês.

As especialidades são as carnes assadas, resgatando assim uma tradição que tem desaparecido dos restaurantes franceses. Entre os pratos fetiche estão o jarret de vitela com gratinado de espinafres e champingnons, brochete de peixe com cenouras e cebolas ao molho de avelã, e a ave caipira acompanhada de purê de maça. Para manter os preços acessíveis, o chef Emmanuel Monsallier utiliza produtos da estação. « Por isso, o cliente nunca vai encontrar, por exemplo, em meados de dezembro pratos feitos com tomates », explica Monsallier.

A decoração, com mesas em tampos de granito , mistura linhas modernas à elementos antigos, como a lareira da sala principal, que data do século 13 e é considerada uma das mais belas de Paris. No fundo da sala, a rotisserie funciona à todo vapor, principalmente durante o jantar, esquentando, assim, a atmosfera austera e quase glacial da sala principal.

Um bar enoteca propoe uma seleção de cerca de 60 vinhos, à partir de 26 euros, e o restaurante tem um espaço para os apreciadores do charuto. O preço médio por pessoa, sem contar a bebida, é de 45 euros, quase cinco vezes menos do que os preços propostos no restaurante principal de Guy Savoy, onde o menu mais accessível sai por cerca por cerca de 230 euros por pessoa, sem o vinho !

Atelier du Maître Albert
1, Rue Maître Albert
+ 33 (0) 1 56 81 30 01


Café Constant, botequim francês



O Café Constant é talvez o restaurante mais popular da nossa seleção. De fora, o local passa quase desapercebido. Com suas pequenas mesas de madeira e o balcão em fórmica, o restaurante se confunde com um dos vários cafés que burbulham nas ruas do bairro, não muito longe da Torre Eiffel. Aqui, nada de frescura e decoração requintada, o essencial está nos pratos servidos.

O chef Christian Constant, antigo cozinheiro do luxuoso hotel Crillon e dono de uma estrelinha no Michelin com seu restaurante Violon d’Ingres, propõe uma cozinha de cantina, mas atenção ! Se trata de uma cantina de primeira qualidade. Os produtos são excelentes e a execução dos pratos é perfeita. Se o cardápaio, proposto em uma pedra de ardósia, varia todo dia em função da entrega dos produtos e do humor do chef, o restaurante preserva seus clássicos, como o magret de pato, a terrine de foie gras com lentilhas, o patê de campagne, feito, normalmente com carne de porco e fígado de galinha, conhaque e ervas aromáticas, e as quenelles de peixe, espécies de bolinhos feitos à base de peixe, farinha, manteiga, ovos e creme de leite fresco.

Tudo isso aliado a preços verdadeiramente modestos. As entradas custam em torno de 7 euros, o prato principal, 11 euros, e a sobremesa, 6 euros. O restaurante, frequentado por moradores do bairro, abre todos os dias e, como nao é possível reservar, o cliente pode ter que esperar alguns minutos antes de conseguir uma mesa. Neste caso, não seria uma má idéia aguardar no bar, tomando um tradicional Kir, vinho branco com licor de cassis.


Café Constant
139, rue Saint-Dominique
+ 33 (0) 1 47 53 73 34


Le Drouant


Após a abertura de Mon Viel Ami, seu primeiro anexo, o chef alsaciano Antoine Westermann, já consagrado em seu restaurante três estrelas Buerehiesel, toma as rédeas do centenário restaurante parisiense Drouant. Criado em 1880, o bistrô se tornou, no final do século 19, um endereço emblemático da capital francesa , sendo frequentado por intelectuais e artistas como os pintores Rodin, Pissaro e Renoir.

Hoje, mais de um século depois de sua criaçao, o local recria o ambiente das tradicionais brasseries francesas, em um estilo chique e despojado. O projeto, obra do arquiteto Pascal Desprez, é uma readaptaçao contemporânea do estilo art déco dos anos 30. “Um lugar convivial, onde eu tento compartilhar com os clientes o gosto pela alegria à mesa », afirma Westermann.

A carta é enxuta e propõe uma seleção de pratos principais servidos com quatro acompanhamentos já selecionados pelo chef, com especial atenção para os legumes. Destaque para as vieiras assadas e o gigot de cordeiro, acompanhados de purê de abóbora e de batata ao molho de gengibre e limão confit. A originalidade do restaurante sao as entradas, servidas por grupo de quatro, como o creme de caranguejo com abacaxi, o carpaccio de dourado ao curry de Madras ou o atum fresco com beringelas confit.

Na hora do almoço, o prato do dia é proposto por cerca de 20 euros e o menu sai por 45 euros. Durante a noite, o cliente deve escolher à la carte, e os preços variam de 33 euros pelo prato principal à 70 euros para uma refeição completa com entrada, prato e sobremesa.. A carta de vinhos é dividida em fundamentais e judiciosos, com preços à partir de 17 euros. O Drouant fica pertinho da Opéra de Paris.


Le Drouant
18, Rue Gaillon
+ 33 (0) 1 42 65 15 16


Os satélites de Alain Ducasse

Alain Ducasse não é somente um dos mais prestigiosos chefs do mundo. O francês já se tornou uma verdadeira instituição gastronômica. Com restaurantes renomados em cidades como Paris, Tóquio, Nova Iorque e Mônaco, Ducasse também é um adepto dos restaurantes satélites, com diversos endereços secundários em Paris, além de seu restaurante principal, no hotel do Plaza Athenée.

Benoît




O Benoît é um dos restaurantes da capital francesa que preserva a autêntica atmosfera dos antigos bistrôs parisienses, com os azulejos e espelhos que recobrem as paredes, canapés revestidos de veludo vermelho, lamparinas e balcão de zinco. Inaugurado em 1912, o restaurante foi cedido ao chef Alain Ducasse em abril de 2005 pela família Petit, proprietária do restaurante há mais de três gerações.

Hoje, o Benoît é o único bistrô da capital que detém uma estrelinha no Guia Michelin. Situado a dois passos do Hotel de Ville, a prefeitura de Paris, o local é frequentado por gourmets do mundo inteiro, que sucumbem à tentação de provar a tradicional cozinha francesa em um ambiente familiar e convivial.

No cardápio, o chef David Rathgeber, formado na chique brasserie do hotel Plaza Athenée, propõe ao cliente pratos tradicionais, como a sopa de agrião, o foie gras de pato fresco, escargots na manteiga de alho e ervas finas, cabeça de vitela ao molho de ervas, mostarda e vinagre ou, ainda, o tradicional cassoulet, a feijoada francesa, uma espécie de cozido feito com feijão branco e carnes de porco e pato que variam de acordo a região da França. Para acompanhar os pratos, Gérard Margeon, sommelier dos restaurantes de Alain Ducasse, propõe 350 referências de vinho, sobretudo franceses. Os preços dos pratos variam de 24 a 35 euros e a entradas custam em torno de 20 euros. Ao meio-dia, o restaurante propõe um menu mais em conta, com entrada, prato e sobremesa por 38 euros.

Benoît
20, Rue St Martin
+ 33 (0) 1 42 72 25 76

Saturday, June 09, 2007

França inaugura o trem mais rápido do mundo



A SNCF, companhia ferroviária estatal francesa, inaugura neste domingo, 10 de junho, o novo TGV Lest, trem de alta velocidade que vai ligar Paris ao leste da França, Alemanha, Suíça e Luxemburgo.
O novo trem, que circula a 320 km/h, é o mais rápido do mundo. Partindo de Paris, chegará à Sttutgart, na Alemanha, em 3 horas e 40 minutos, encurtando quase a metade do tempo de um trem comum.
O trajeto Paris-Zurique vai durar somente 4 horas e 30 minutos e Paris-Frankfurt, 3 horas e 50 minutos. Para se ter uma idéia do preço, o percurso Paris-Frankfurt vai custar 95 euros, o equivalente a 247 reais. No total, o projeto do TGV Lest custou 5,5 bilhões de euros.
Informações e reservas: http://www.sncf.com/








Saturday, January 07, 2006

Na rota dos Impressionistas







Legenda fotos (de cima para baixo, da esquerda para a direita) : A Igreja de Auvers-sur-Oise, obra pintada por Van Gogh em junho de 1890 / O retrato do Dr. Gachet / Quarto de Vang Gogh / Casa onde Van Gogh recebia os amigos, nos fundos do hotel Ravoux / Igreja de Auvers-sur Oise / Paisagem de Auvers-sur-Oise

Situada a 30 km de Paris, Auvers-sur-Oise foi o berço de vários pintores do movimento impressionista. De Van Gogh à Pissaro, passando por Cézanne e Daubigny, essa pequena cidade de ares medievais, guarda ainda os traços dos impressionistas do fim do século XIX.



Andar pelas ruas de Auvers-sur-Oise é uma viagem no tempo. Construída na Idade Média, a cidade guarda construções que datam do século XV, como o “manoir de colombières” que abriga hoje o ofício de turismo e o museu de Daubigny, um dos precursores do movimento impressionista. A paisagem natural, que se extende ao longo das margens do rio Oise, também inspirou os pintores que viveram ou passaram pela cidade. Nao é à toa que a região à qual pertence Auvers recebeu o nome de “Communes de la Valée de l’Oise et des Impressionistes” (Munícipios do Vale do Oise e dos Impressionistas)


Apesar da beleza natural e da riqueza arquitêtonica, a fama da cidade se deve ao pintor holandês Vincent Van Gogh, que viveu ali os três últimos meses de sua vida. Durante esse período, Van Gogh pintou mais de 70 quadros, entre eles alguns de seus mais famosos, como “A Igreja de Auvers-sur-Oise”, de 1890, representada sob um céu azul turqueza, obra exposta atualmente no museu d’Orsay, em Paris. Ou ainda, o célebre retrato do Dr. Gachet, que se ocupou de Vang Gogh até a sua morte. Por isso, não se assustem se caminhando pela cidade vocês tiverem uma impressão de “déjà vu”.


Além de descobrir as paisagens e construções originais que isnpiraram o pintor, vale a pena também visitar o “Auberge Ravoux” rebatizado Casa de Vang Gogh. Foi nesse antigo hotel que o pintor viveu os três ultimos meses de sua vida. O quarto onde Van Gogh morreu depois de sua tentativa de suícidio conserva o mesmo aspecto da época. Tanto Vincent Van Gogh como seu irmão, Teo Van Gogh, estão enterrados no cimitério de Auvers-sur-Oise.


A visita não é, claro, em sentido único. O público é livre para escolher se se limita unicamente à Van Gogh ou se descobre o resto de Auvers-sur-Oise, mais tranquilto e rural.

Monday, January 02, 2006

O Ventre de Paris

Pavilhao das carnes - Mercado Internacional de Rungis


Na segunda metade do século XIX, o célebre escritor francês Emile Zola imortalizava em sua obra « O ventre de Paris » o então recém inaugurado mercado « les Halles ». Instalado no coração da capital francesa, onde hoje se situa o turístico quartier des Halles, o mercado foi durante mais de um século a principal artéria de Paris. Em 1962, o então presidente da Républica Francesa, o General Charles de Gaulle, decide transferir o les Halles para a periferia da cidade. Sete anos mais tarde, é inaugurado o mercado internacional de Rungis, o maior mercado de produtos frescos do mundo.

Rungis é uma verdadeira cidade. Instalado a cerca de 10 km ao sul de Paris, em uma superfície de 232 hectares, o mercado tem mais de 720 mil m2 de pavilhões recheados de frutas, verduras, peixes, mariscos, carnes, aves, flores e laticínios. Os produtos comercializados em Rungis abastecem 18 milhões de consumidores europeus, sendo 12 milhões somente na França. Mais de 50% dos produtos bovinos, derivados da carne, do mar e de água doce consumidos na regiao parisiense saem de Rungis.

Com tanto espaço, o que não poderia faltar é variedade. Somente no pavilhão de laticínios, são mais de 400 tipos de queijos, sem contar toda uma gama de derivados do leite, incluindo as deliciosas manteigas feitas com o famoso sal de Guerande, na Bretanha. Os pavilhões da carne não são, definitivamente, recomendados a vegetarianos. Corredores e mais corredores de onde pendem peças inteiras de cordeiro, costelas de boi, pernas de carneiro ou cabeças de vitela. Sem falar nos nove pavilhoes destinados às frutas e verduras, outros onze às flores e um enorme galpao para os produtos do mar. Além dos alimentos tipicos da gastronomia francesa, o Rungis também conta com uma suculenta oferta internacional. Durante o inverno, 60% dos produtos comercializados são importados, a grande maioria da África e América do Sul .

Apesar de reservado aos profissionais do setor, o mercado de Rungis também é aberto ao público e pode ser visitado por particulares. Basta disposição e muita coragem para acordar cedo, muito cedo. O melhor horário para visitar o Rungis é entre 5h e 7h da manhã, quando os clientes vêm escolher os produtos que serão, mais tarde, vendidos aos consumidores nos bares, restaurantes, cafés e supermercados na França e na Europa. E para quem pensa que pechinchar nao é coisa de francês, basta passar um dia em Rungis para mudar de idéia. Nenhum preço é fixado antes. O principio é que o consumidor negocie sempre o valor das mercadorias com os vendedores.